Moradores de Xerém sofrem com a falta de água na região

Crise hídrica já dura meses e represas do Sistema Acari enfrentam estiagem histórica

(por Bruno Laurindo) 


O problema é antigo. Todos os anos, boa parte dos moradores de Xerém, 4º distrito do município de Duque de Caxias (RJ), sofrem com a falta de água nesta época. De fato, a escassez hídrica é um obstáculo persistente, que piora com o passar do tempo. O crescimento desordenado da população só contribui para o aumento no consumo de água. Com a demanda crescendo, o fluxo diminui cada vez mais nas torneiras, deixando muitas famílias sem acesso à água potável nas casas. O outro problema que colabora para essa escassez é a estiagem, pois não chove em Xerém há meses. 

O 4º Distrito de Duque de Caxias enfrenta a pior crise hídrica de sua história. Desde abril, a falta de água na região vem acarretando problemas para boa parte da população e causado descontentamento com a empresa Águas do Rio, concessionária responsável pelo setor de abastecimento de água e esgotamento sanitário. 

A cada dia que passa, o desespero só aumenta. Moradores relatam esperar até a madrugada para pegar água. “É uma luta que nós moradores temos que enfrentar com frequência”, diz uma moradora da rua Mário Barbosa (localizada no Bairro de Fátima). Ela preferiu não se identificar, mas confirma que casos duradouros como este nunca tinham acontecido na rua onde mora. 

Diante deste cenário, boa parte da população tem recorrido aos poços artesianos que, em Xerém, são muitos. “Eu sou moradora do bairro e moro de aluguel. Tive que sair da casa que eu morava por anos e alugar outra que tem poço”, revela uma ouvinte da Rádio Serra Verde FM em conversa por um aplicativo de mensagem. “O meu caso eu consegui resolver, só que infelizmente acabei de chegar e acompanhar o desespero de famílias com crianças pequenas sem uma gota d’água. Estou dando água para três famílias”, desabafa a ouvinte que preferiu também não se identificar. 

Poço Artesiano 

Quem tem poço artesiano, divide a água com o vizinho do lado. Em Xerém, a solidariedade com o próximo fala mais alto. Para quem não tem uma gota de água na torneira, um balde cheio faz toda diferença. Muitos revelam que, em períodos críticos como o atual, precisam carregar baldes de água para realizar tarefas domésticas e manter a higiene pessoal. 

A atividade de perfuração de poços artesianos no Brasil não é proibida por lei. No entanto, ela só pode ser exercida por empresas especializadas e registradas no Conselho de Engenharia e Arquitetura (CREA). Além disso, é preciso ter uma licença de perfuração dos órgãos ambientais competentes. Cada estado tem leis e comitês de bacias regionais que emitem a licença. O documento garante a legalidade e a sustentabilidade do uso dos recursos hídricos subterrâneos. É importante lembrar que perfurar poços artesianos ou operá-los sem a devida autorização constitui infração às normas de utilização dos recursos hídricos, gera penalidade de advertência e causa multa diária, além da interdição do poço. 

Obras da Águas do Rio 

O drama da água em Xerém continua. Mesmo porque, boa parte da população da região tem demonstrado insatisfação com a concessionária responsável pelo setor de abastecimento de água. Para elas, as obras da Águas do Rio para a instalação de hidrômetros só pioraram a situação. 

Segundo os moradores, mesmo com o hidrômetro, ainda ocorrem interrupções frequentes no fornecimento de água. É uma vergonha! Não tem água aqui em casa a dias e mesmo assim a conta d’água chega pra gente pagar?”, questiona outra ouvinte, moradora da rua Márcio Santos Silva, na Mantiquira. 

É importante explicar que um hidrômetro, também conhecido como contador de água, é um instrumento que mede o volume de água que passa por uma parte da rede de abastecimento de água. Ele é utilizado em residências, estabelecimentos comerciais e por empresas de saneamento básico para medir o consumo de água e emitir as contas. 

O setor de jornalismo da Rádio Serra Verde entrou em contato com a Águas do Rio e questionou a empresa sobre o porquê da falta de água nas torneiras das casas em Xerém. A concessionária emitiu uma nota informando que: em virtude das condições climáticas e do período de estiagem o abastecimento de água está reduzido em alguns municípios da Baixada Fluminense, entre eles, Duque de Caxias. 

Ainda de acordo com a nota, os clientes cadastrados podem solicitar o serviço de caminhões-pipa por meio do número de telefone 0800 195 0 195, que funciona 24 horas por dia, para ligações gratuitas e mensagens via WhatsApp. 

Nota da Águas do Rio 

“A Águas do Rio informa que, em virtude das condições climáticas e do período de estiagem, que historicamente impactam a disponibilidade hídrica em mananciais de captação de água, o abastecimento está reduzido em alguns municípios da Baixada Fluminense, entre eles, Duque de Caxias. A concessionária ressalta que está adotando todas as medidas operacionais possíveis para reduzir o impacto à população, inclusive implantando novos sistemas de bombeamento.” 

“Como plano de ação, a empresa reforçou a quantidade de caminhões-pipa. Clientes cadastrados podem solicitar o serviço através do 0800 195 0 195, que funciona 24 horas por dia, para ligações gratuitas e mensagens via WhatsApp.” 

Cedae 

Em nota publicada no último dia 16 de setembro, a Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae), responsável pela captação da água, informou que a estiagem tem afetado todo o Estado do Rio de Janeiro, comprometendo o abastecimento em alguns sistemas produtores. 

Sobre a região da Baixada Fluminense, a publicação esclarece que: “as represas do Sistema Acari (Tinguá, Xerém, Rio D’Ouro, São Pedro e Mantiquira), que abastecem parte da Baixada Fluminense, enfrentam estiagem histórica. As unidades captam água em mananciais menores, cuja disponibilidade depende diretamente do volume de chuvas para garantir a operação total do sistema. A concessionária Águas do Rio, responsável pela rede de distribuição na região afetada, realiza manobras para direcionamento da água do Sistema Guandu - que opera com 100% da capacidade - para as localidades atendidas”. 

Na mesma data da publicação da nota (16/09), o presidente da Cedae, Aguinaldo Ballon, em reunião com o Governador do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, lembrou que o Sistema Acari teve a captação reduzida em 30%. “O sistema Acari está sendo compensado pela Estação de Tratamento de Água do Guandu”, disse. “Estamos disponibilizando mais água do Guandu para o sistema Acari para mitigar e minimizar o impacto desse sistema, que atende a Baixada Fluminense”, reforçou. 

Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) 

Segundo o Informativo Meteorológico Nº26/2024 do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão para os próximos meses, outubro e novembro, indica predomínio de chuvas abaixo da média em grande parte da região sudeste do país. Ainda de acordo com o boletim, para este final de semana, entre sexta-feira (27) e domingo (30), há previsão de chuva em áreas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, devido ao avanço de um sistema frontal que se desloca em direção ao oceano

Xerém 

É indispensável destacar que o Distrito de Xerém fica ao pé da Serra Petrópolis e faz parte da Reserva Biológica Federal do Tinguá. Está localizado em uma área de relevo acidentado, em uma região cercada de montanhas. Sua população, segundo o censo demográfico de 2022 do IBGE, é de aproximadamente 64.936 pessoas. A região é caracterizada por uma mistura de zonas residenciais e industriais, o que cria um ambiente dinâmico e diversificado. 

Xerém tem uma rica história. Além de fazer parte da ReBio Tinguá, o Distrito é também conhecido por abrigar o Centro de Treinamento das categorias de base do Fluminense Football Club; conta também com uma unidade do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO); e um polo universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).