Órgãos infectados por HIV: sócio de laboratório que emitiu laudos errados é preso no Rio de Janeiro; entenda o caso
(redação Serra Verde / foto: Globo News)
Policiais Civis do Rio de Janeiro realizaram, na manhã desta segunda-feira (14), a Operação Verum, para prender quatro pessoas envolvidas no caso dos transplantes de órgãos infectados com o vírus HIV. Para cumprir o mandado de prisão, os policiais precisaram arrombar a sede do laboratório em Nova Iguaçu (RJ). O médico ginecologista Walter Vieira, apontado como sócio do PCS Lab Saleme, foi preso por agentes da Delegacia do Consumidor (Decon).
De acordo com informações da TV Globo, Vieira, que é tio do deputado federal Dr. Luizinho (PP), foi quem assinou um dos laudos com o falso negativo para o vírus. Ivanildo Fernandes dos Santos, responsável técnico do laboratório, também foi preso na operação. Além disso, o sócio Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, filho de Walter, foi conduzido pela polícia para prestar depoimento. Além das prisões, a polícia também cumpriu 11 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Ao todo, 40 agentes participaram da ação.
"As investigações indicam que os laudos, falsificados por um grupo criminoso, foram utilizados pelas equipes médicas, induzindo-as ao erro, o que levou à infecção dos pacientes. Um dos pacientes veio a falecer, com as causas da morte ainda sob investigação", disse a Polícia Civil à TV Globo.
As autoridades investigam ainda se o PCS Lab Saleme falsificou laudos em outros casos, além dos transplantes. É importante reforçar que a empresa era responsável por atender dez unidades estaduais de saúde do Rio de Janeiro. A polícia também apura a identidade de todos os profissionais envolvidos no esquema criminoso, que devem ser responsabilizados.
Na última sexta-feira (11), a Band News noticiou que seis pacientes de transplantes foram contaminados com HIV, após receberem órgãos infectados com o vírus no Rio de Janeiro. A Secretaria da Saúde confirmou o caso. Segundo o governo do Estado do Rio, o erro ocorreu em exames de sangue realizados pelo laboratório privado PCS Lab Salem, localizado em Nova Iguaçu. O laboratório foi contratado emergencialmente em dezembro de 2023 pela SES.
A Polícia Civil do estado, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão investigando o caso. A Secretaria de Saúde enviou uma nota sobre o caso. Além disso, o Governo do Estado e o PCS Lab também se pronunciaram.
Leia as notas
*Nota da Secretaria de Saúde:
“A Secretaria de Estado de Saúde (SES) considera o caso inadmissível. Uma comissão multidisciplinar foi criada para acolher os pacientes afetados e, imediatamente, foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados. O laboratório privado, contratado por licitação pela Fundação Saúde para atender o programa de transplantes, teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso e foi interditado cautelarmente. Com isso, os exames passaram a ser realizados pelo Hemorio.
A Secretaria está realizando um rastreio com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório. Uma sindicância foi instaurada para identificar e punir os responsáveis. Por necessidade de preservação das identidades dos doadores e transplantados, bem como do encaminhamento da sindicância, não serão divulgados detalhes das circunstâncias.
Esta é uma situação sem precedentes. O serviço de transplantes no Estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”.
*Nota do Governador Cláudio Castro:
"É uma situação inadmissível e sem precedentes a falha no serviço de transplantes no estado. Determinei total rigor e celeridade nas investigações. Além das sindicâncias em andamento na Secretaria de Saúde e na Fundação Saúde, a Polícia Civil já abriu inquérito para chegar aos responsáveis. Desde o início, tomamos todas as medidas necessárias e vamos até o fim para que este erro jamais se repita.
Quero prestar solidariedade aos transplantados que foram afetados e assegurar apoio irrestrito a todos. Um grupo de profissionais especializados está prestando atendimento a esses pacientes. Logo que foi notificada do primeiro caso, a Secretaria Estadual de Saúde suspendeu as atividades do laboratório que era responsável pelas análises entre dezembro de 2023 e setembro deste ano, contratado por licitação pela Fundação Saúde. Ele já foi interditado.
O Hemorio assumiu a realização dos exames e está testando todas as amostras armazenadas dos doadores nesse período. Com isso, reforço que todos os procedimentos estão ocorrendo em absoluta segurança. O Ministério da Saúde e a Anvisa estão atuando em sintonia conosco.
Reitero meu compromisso em preservar a segurança do sistema estadual de transplantes, que já salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas."
*Nota do PCS Lab:
"O laboratório PCS Lab abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso envolvendo diagnósticos de HIV em pacientes transplantados ocorridos no Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de um episódio sem precedentes na história da empresa, que atua no mercado desde 1969.
O laboratório informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à Fundação de Saúde do Governo do Estado. Nestes procedimentos foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O PCS Lab dará suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e seus familiares; e reitera que está à disposição das autoridades policiais, sanitárias e de classe que investigam o caso."
Descoberta
Segundo publicação do site G1 em 11 de outubro, a situação foi descoberta no último dia 10 de setembro, quando um paciente transplantado foi ao hospital com sintomas neurológicos e teve o resultado para HIV positivo; ele não tinha o vírus antes. Esse paciente recebeu um coração no fim de janeiro. A partir daí, as autoridades refizeram todo o processo e chegaram a 2 exames feitos pelo PCS Lab Saleme. A primeira coleta foi feita no dia 23 de janeiro deste ano — foram doados os rins, o fígado, o coração e a córnea, e todos, segundo o laboratório, deram não reagentes para HIV.
Ainda de acordo com o post, sempre que um órgão é doado, uma amostra é guardada. A SES-RJ, então, fez uma contraprova do material e identificou o HIV. Em paralelo, a pasta rastreou os demais receptores e confirmou que as pessoas que receberam 1 rim cada também deram positivo para o HIV. A que recebeu a córnea, que não é tão vascularizada, deu negativo. A que recebeu o fígado morreu pouco depois do transplante, mas o quadro dela já era grave, e a morte não teria relação com o HIV.
No dia 3 de outubro, mais um transplantado também apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV. Essa pessoa também não tinha o vírus antes da cirurgia. Cruzando os dados, chegaram a outro exame errado, o de uma doadora no dia 25 de maio deste ano.