Resíduos de “quentinhas” são principal origem de microplásticos encontrados em praia carioca
Estudo da UFRJ identificou 32 itens microplásticos na Praia Vermelha (RJ); 70% dos resíduos são de poliestireno expandido
Redação Serra Verde / Fonte: Agência Bori)
Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostra que a Praia Vermelha, localizada no bairro da Urca, sofre com o descarte inadequado de resíduos plásticos. No total, foram identificados 32 itens microplásticos, sendo que a maioria, 70%, é formada pelo poliestireno expandido, popularmente conhecido como isopor. O material é abundante em produtos descartáveis como embalagens de alimentos. Os resultados estão publicados em artigo na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências.
A pesquisa estabeleceu e validou um protocolo padronizado para a coleta, tratamento e caracterização de microplásticos em areias de praias costeiras. A metodologia envolveu amostragem sistemática na linha de maré alta, flotação (separação de partículas dá água por meio da flutuação) e tratamento laboratorial com microscopia óptica e Espectroscopia de infravermelho (FTIR) para garantir resultados confiáveis e minimizar a contaminação externa.
“Procuramos adaptar o protocolo às condições brasileiras, considerando fatores específicos como clima, velocidade do vento e marés, além de aspectos relacionados à latitude e longitude dos locais de coleta”, explica Marina Sacramento, pesquisadora da UFRJ e uma das autoras do artigo. Para ela, essa abordagem é um avanço em relação a estudos anteriores, que frequentemente empregavam diferentes metodologias de coleta e extração, limitando a comparabilidade dos dados.
A pesquisa apontou que, entre os 32 microplásticos identificados na Praia Vermelha, os diâmetros médios das amostras variaram entre 2.1 e 4 milímetros. Os itens encontrados apresentaram formatos diversos, como espuma, filamentos e pequenos grânulos. Além do isopor, que corresponde à categoria de espuma, o polietileno e o polipropileno foram encontrados em menor proporção, representando cerca de 18% e 12% das amostras, respectivamente. Esses materiais podem ser encontrados em sacolas e filmes plásticos, copos descartáveis e tampas de garrafas.
A presença desses resíduos em uma praia pequena e de grande circulação turística, cercada por restaurantes e próxima ao Pão de Açúcar, reforça a preocupação com o descarte inadequado de plásticos em áreas costeiras. A equipe já esperava encontrar microplásticos no local. “No entanto, a grande surpresa foi a expressiva quantidade de poliestireno, proveniente das quentinhas de alimentação, especialmente durante os grandes feriados brasileiros”, afirma Marina Sacramento. O isopor é reciclável, mas seu reaproveitamento encontra desafios como o descarte incorreto e o baixo valor de mercado do material, que inviabiliza ganhos financeiros para catadores e cooperativas.
Além de dar continuidade às pesquisas na área, a equipe já possui outros projetos em andamento, com foco na análise de microplásticos em amostras de água do mar, de rios e de cachoeiras. A intenção é ampliar a compreensão sobre a distribuição e os impactos desses poluentes em diferentes ecossistemas aquáticos.