Névoa seca cobre boa parte da paisagem em Xerém
Manhã de quinta-feira (05) no 4º Distrito foi de céu claro, mas com serra cinzenta; fenômeno ocorre devido ao tempo seco e a fumaça de queimas e incêndios florestais que acontece em boa parte do Brasil
(por Bruno Laurindo)
A quinta-feira (05) em Xerém, 4º Distrito do Município de Duque de Caxias (RJ), amanheceu com céu claro e tempo seco. A névoa branca ao fundo da imagem, registrada pela câmera do tempo da Rádio Serra Verde FM, criou uma paisagem distinta na região. Esse fenômeno é resultado de uma combinação de fatores climáticos e ambientais. A falta de chuva recente contribuiu para a formação de uma névoa seca, enquanto a fumaça de queimas (prática autorizada) e incêndios florestais (prática criminosa), vindo de outras regiões do país, adicionado por partículas de poluição ao ar, colaborou, intensificando o fenômeno.
A névoa branca no horizonte, muitas vezes confundida com nevoeiro, ocorre quando há uma alta concentração de partículas de poluição e umidade no ar. Essas partículas refletem a luz solar, dando ao céu uma aparência esbranquiçada. Este cenário é comum durante o inverno, quando as temperaturas mais baixas e a inversão térmica prendem os poluentes próximos à superfície. Nesses casos, é aconselhável que a população evite atividades ao ar livre durante os períodos de maior concentração de poluentes e mantenha-se hidratada.
Reinaldo Santos, diretor técnico da Rádio Serra Verde de Xerém, foi quem registrou a imagem. Segundo ele, em Xerém o clima tem mudado na parte da tarde, quando a umidade do ar está mais baixa. “Estamos no período de inverno, então à tarde fica insuportável aqui”, conta. “Na parte da manhã, a floresta acaba filtrando o ar que ainda ta melhor. Isso aí que vê é uma névoa, não é fumaça. É claro que o ar está poluído, dá pra ver porque a serra está cinza, mesmo assim ainda fica respirável”, diz.
O radialista e eletrotécnico explica como essa variação térmica tem oscilado na região. “Durante a madrugada até o amanhecer, a umidade tem subido muito em Xerém. E na parte da tarde, a qualidade fica insuportável. É cheiro de fumaça pra tudo que é lado. A variação térmica está muito alta. A noite faz 14, 15 graus e de dia faz 37, 38 graus”.
Este episódio se agrava por causa da poluição atmosférica. E fica mais perigoso devido às queimadas. Neste caso, as partículas de fumaça e poeira suspensas no ar filtram a luz solar, resultando em um céu mais escuro e menos visível. É importante reforçar que a fumaça das queimas e dos incêndios florestais é composta por gases tóxicos, como monóxido de carbono (CO), e material particulado fino (PM2.5) - partículas minúsculas suspensas no ar. Todos esses componentes são altamente prejudiciais à saúde da população e podem causar desconfortos respiratórios, especialmente para aqueles com problemas de saúde preexistentes.
Névoa seca e névoa úmida, qual a diferença?
A névoa seca é uma massa de ar misturada com partículas sólidas de poluição que deixa o horizonte opaco. A umidade relativa do ar é sempre abaixo de 80%. É um fenômeno muito comum no Brasil no outono e no inverno, quando a chuva fica escassa em grande parte do país. A presença de sistemas de alta pressão atmosférica, que causam a inversão térmica, facilitam a ocorrência da névoa seca, e a fumaça das queimadas deixa o fenômeno mais denso e incômodo.
Já a névoa úmida é uma forma de condensação da umidade do ar, como uma nuvem baixa, mas que não provoca chuva e, em geral, não causa redução significativa da visibilidade na superfície.
Crise Ambiental
Meteorologistas têm observado e comentado sobre a fumaça das queimadas que está afetando vários estados do Brasil. De acordo com a MetSul Meteorologia, ventos quentes vindos do Norte estão trazendo a fumaça das queimadas na Amazônia para o Sul do Brasil, deixando o céu acinzentado e aumentando a temperatura em várias regiões. Esse fenômeno é facilitado por um corredor de vento em baixas altitudes, conhecido como “corrente de jato”, que transporta a fumaça para o Sul e Sudeste do país.
Estael Sias, meteorologista da MetSul, explicou que a fumaça tem se espalhado por meio de um fenômeno chamado "rio atmosférico de fumaça", que é um paralelo aos "rios voadores" de umidade atmosférica que vão da Amazônia até o centro-sul do Brasil. Esse corredor de fumaça está afetando a qualidade do ar e a visibilidade em várias regiões, incluindo o Rio de Janeiro e o Espírito Santo.
Na mesma linha de raciocínio, Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama, ainda destacou que a crise das queimadas no Brasil é agravada pelas mudanças climáticas e pela utilização do fogo para desmatamento, especialmente no sul da Amazônia. “Provavelmente, tem gente se aproveitando da seca extrema para ampliar suas áreas sem, necessariamente, fazer desmatamento, e sim, através do fogo”, conta. Segundo Agostinho, somente penas mais duras para crimes ambientais e uma mudança na sociedade vão resolver o problema das queimadas. “A legislação brasileira precisa ser mais dura”, afirma.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelam um aumento alarmante nos focos de incêndio em 2024. Segundo o Inpe, houve um crescimento de 78% em comparação ao ano passado (2023). É importante destacar que a Amazônia é o bioma mais afetado, concentrando quase metade dos focos de queimadas.
Previsão do tempo em Xerém para esta sexta-feira, 06/09
O aumento da nebulosidade trouxe muitas nuvens para o interior do Estado. A sexta-feira (06) começou com céu encoberto e pode chover de forma isolada nesta sexta-feira. As temperaturas entram em declínio. Em Xerém a máxima para hoje é de 30 graus e a mínima 16 graus celsius.