Pressão arterial com valor de 12/8 passa a ser considerada pré-hipertensão

(Redação Serra Verde / Fonte: USP)
Em uma mudança de paradigma no Brasil para o diagnóstico e acompanhamento da pressão arterial, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em conjunto com a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), divulgou, esta semana, novas diretrizes que reclassificam valores considerados tradicionalmente “normais” para pressão arterial. De acordo com a nova “Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 2025”, uma aferição de 12/8 mmHg (120/80), até então vista como o padrão de normalidade, passa a ser enquadrada como pré-hipertensão.
Por sua vez, a hipertensão no Brasil continua sendo definida como a pressão arterial igual ou superior a 140/90 mmHg (14/9). A revisão ocorre com base em evidências de que níveis de pressão considerados “limítrofes” ainda contribuem para riscos cardiovasculares como infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e lesão renal, se não acompanhados de cuidado e mudança de estilo de vida. Essa atualização brasileira visa, segundo os especialistas, ampliar a detecção precoce e estimular intervenções antes que a hipertensão se instale plenamente.
Para o professor Luiz Aparecido Bortolotto, da Faculdade de Medicina (FM) da USP e diretor da Unidade de Hipertensão do InCor (Instituto do Coração), o entendimento de que níveis aparentemente normais já trazem risco não é novo. Estudos mostram que a partir de 115/75 milímetros de mercúrio, cada aumento de 20 pontos na pressão sistólica ou de 10 na diastólica eleva consideravelmente as chances de complicações cardiovasculares. Por isso, valores iguais ou acima de 12/8 já exigem acompanhamento e mudanças de hábito, mesmo que não representem hipertensão instalada. “A ideia é fazer um alerta e começar a prevenção logo”, reforça o pesquisador.
O que muda na prática clínica e no dia a dia
1- Quem tiver aferição de 12/8 (120/80) ou valores próximos já será considerado em uma “zona de risco” e poderá receber orientações específicas sobre estilo de vida: dieta, atividade física, redução de sal, controle de peso e monitoramento da pressão.
2- Para pessoas com pressão acima de 14/9 (140/90), o diagnóstico de hipertensão permanece, mas a meta de tratamento também ficou mais rígida: o alvo agora é abaixo de 13/8 mmHg (130/80) para a maioria dos pacientes.
As novas diretrizes indicam que quem está na faixa de pré-hipertensão deve adotar mudanças no estilo de vida, como reduzir o consumo de sal, controlar o peso, praticar atividades físicas e gerenciar o estresse. O uso de medicamentos, no entanto, só é considerado em casos específicos, como por exemplo em pessoas com pressão acima de 13/8 associada a diabetes ou doenças renais. “Esses pacientes têm risco maior e podem precisar de remédios, caso as medidas não medicamentosas não surtam efeito após três meses”, explica o especialista.
Bortolotto ressalta que a hipertensão raramente aparece sozinha. Em grande parte dos casos ela vem acompanhada de obesidade, colesterol alto e glicemia elevada, o que multiplica os riscos. Por isso, a diretriz reforça a importância de observar o paciente como um todo, e não apenas o número no medidor. “Se a gente só baixar a pressão, mas não controlar o colesterol ou o açúcar, o risco continua alto”, afirma. O professor destaca ainda que o SUS é a principal porta de entrada para o acompanhamento da hipertensão.
É importante reforçar que essa mudança não significa que todos com pressão 12/8 devem imediatamente tomar remédios anti-hipertensivos. Trata-se apenas de uma chamada de atenção para risco aumentado e intervenção precoce. Entretanto, Bortolotto alerta que os pacientes que já fazem uso de medicamentos podem, em alguns casos, reduzir a dosagem ou suspender o tratamento, desde que sob orientação médica e com mudança comprovada de hábitos. “Há pessoas cuja pressão melhora significativamente com perda de peso, mas isso deve ser acompanhado de perto”.